quarta-feira, 24 de maio de 2017

ŞEFUL BANDEI

 









                                     




                                    E então, como não  confessara, amarram-me as mãos e os pés com uma  corda trançada que penetrava minhas carnes e nos tendões, abriram-me  a boca à força, jogando água até sufocar. Como eu nada falasse, diziam,  a prisão era provisória, mas se continuasse calado, não colaborasse, iria mofar na cadeia. O chefe é calmo,  paciente, generoso, um pai para os colaboradores, mas implacável com os renitentes, diziam.  Repetiam de minuto a minuto. Cada hora aparecia um com ares de amizade pedindo que eu entregasse o chefe da quadrilha. Só estavam interessados no chefe. Eu não sabia nem se ele era o chefe mesmo. Mas eu já não me aguentava mais e um dia chamei a turma e disse: Se preparem que eu vou entregar todo mundo. Eles festejaram minha decisão. Neste dia, mandaram buscar no Curral, no Curral, cara, um almoço maravilhoso. Picanha regada a vinho, com sobremesa e licor francês. Disseram que era para eu relembrar os velhos tempos e se tudo corresse bem eu iria poder desfrutar de tudo isto novamente, pois a liberdade era um dos prêmios dos colaboradores.
                               Eu me sentia estar sendo chantageado, aquilo não passava de uma forma de corrupção, comprar minha liberdade dedurando pessoas, muitas delas, talvez, inocentes, mas não tinha outra alternativa. Diziam ter o controle de toda minha vida, informantes no trabalho, nas rodas que eu frequentava, e, que inclusive parentes meus, eram pagos para me vigiar, pagos com nosso dinheiro, vejam que loucura, para nos dedurar. Houve um tempo que a pessoa tinha vergonha de ser dedo-duro, hoje se orgulham disto.
                            Diziam mais, os outros presos já tinham me entregado, que eu estava nas mãos deles. Trădători, pensava, mas sem ter certeza de realmente serem traidores. Doi muito a incerteza, você não sabe com agir, é outra forma de tortura. Diziam que tinham autorização do chefe, o deles, para obter a confissão, que no caso, era mais que uma confissão, era a entrega de uma pessoa que talvez fosse, de fato inocente. Entrega, cara, diziam, não tem como ele não saber tudo. Perguntei a um deles se ele sabia o que sua mulher estava fazendo naquele exato momento e ele deu um tabefe. Doeu muito, por muitos  dias.
                                    Dilemă teribilă, mas acabo por dedurar todo mundo, sim. Você faria o que? Ouvindo ameaças a toda sua família, não sou tão estoico assim, vou sucumbir. Você não? Duvido, os métodos da tortura ficaram mais sofisticados. Não é tão brutal como faziam os militares. Hoje os torturadores são treinados, treinados fora, você sabe, fora. Todos os dias você lê nos jornais, alguém dos deles, foi fazer palestras no estrangeiro. A verdade? Vão receber instruções e treinamento. Aprender como blassar, sem dar na pinta. Usam a lei, a seu modo, aparentando legalidade e legitimidade.

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