segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


















                                                      Hoje amanheci indisposta. Não aguentava trabalhar. O chefe se ofereceu para vir à minha casa trazer o trabalho. Não, não precisava, mas ele insistiu. Assim me assedia. Faço ouvidos moucos, seguindo o conselho de Lacan, para quem fazer-se de surdo, às vezes, vale mais do que ouvir. O chefe me quer de qualquer jeito, todos eles são assim. Muitos já conseguiram de minhas colegas. Qualquer dia você vai perder o cargo, dizem. Uma diretoria não é para todo mundo, ou você acha que está aí por capacidade, ninguém está nem aí para conhecimentos. Pouco importa anos de estudo, doutorado e mestrado. Você está aí porque é bonita, se feia, podia ter a biblioteca do Vaticano na cabeça, jamais ele te daria este cargo. Sei, minha honra não está à venda. Que honra, mulher? Basta lavar, fica novinha. Não sou coisa. Nem é medo de sua mulher, aquela feiosa. Ela não é páreo para mim. Isto também é uma forma de corrupção. Passar para a história como corrupta? Isto, não. Não, não esta missão, não. Prefiro, ser tratada como traidora. Não, não se trata de traição. Não, você não é obrigada a fazer o que não gosta.

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